quarta-feira, 29 de junho de 2022

A EQUILIBRISTA SEM DOM, de Mila Gomes

 





Em tempos sombrios e difíceis como os últimos anos (crise em 2013, golpe em 2016, eleição do inominável em 2018, pandemia), é muito bom quando nos deparamos com um olhar atento, porém sensível, de nosso cotidiano.

Mila Gomes, poeta carioca, em seu livro de estreia, A equilibrista sem dom (Editora Ipêamarelo, 2021) experimenta assumidamente um tom confessional. A poeta transita entre reflexões sobre idas e vindas amorosas, amores e paixões platônicas e sobre a consciência do corpo como elemento fulcral desse eu-lírico que se esgueira como o gauche drummondiano (ou como o flâneur baudeleireano?) por versos diretos, nada herméticos, mas que em momento algum soam simplistas.

Mila Gomes parece apresentar à leitora e ao leitor um poema único do começo ao fim. Sua dicção bastante peculiar, com versos livres, mas com certos jogos de construção de imagens que nos remetem à "santíssima trindade" retórica poundiana, explora muito bem os elementos sensoriais da fanopeia. 

João Apolinário e João Ricardo, compositores do clássico do Secos & Molhados, Amor, se referem metaforicamente à leveza da pluma (em oposição aos terríveis anos de chumbo sob o tacão do coturno dos milicos), o que se aproxima muito do que Mila Gomes faz em A equilibrista sem dom. Assim como nos terríveis anos de ditadura, vivemos momentos de violência, de discurso nacionalista e anti-humanitário, mas ainda assim é preciso de leveza e de sofisticação, que são elementos em que a poeta acerta em cheio.

Serviço:

A equilibrista sem dom
Poesia
10x18
59 páginas
Editora Ipêamarelo 

   

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