terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ALEXANDRE KRAMER: HERDEIRO DOS MALDITOS


Ter amigos escritores nem sempre é bom. Tenho centenas de amigos escritores e, sendo crítico, esse tipo de relação me traz alguns problemas. Como ser imparcial? Como construir uma crítica negativa e conseguir se desvencilhar, por algum momento, da relação afetiva? Não há uma fórmula ou um modo padrão para seguir, mas como tenho sorte nesse aspecto, mais uma vez resenho um livro de um amigo que é um grande escritor.

Ainda desconhecido do grande público, Alexandre Kramer, colega de graduação e de magistério, há algum tempo trabalha em um extenso volume de poemas ainda não intitulado. Neste volume, Alexandre Kramer reune poemas escritos em várias fases de sua trajetória poética. Desde poemas escritos na época da graduação em noitadas regadas a grandes quantidades de álcool, nas quais eu estava presente, até sua fase mais madura, atual, mas não menos inquieta.

Parece que em seus versos há a presença constante de uma voz que grita, acusadora, as mazelas e hipocrisias de um ambiente urbano decadente, sujo, sombrio e grotesco, às margens do absurdo do cotidiano. Alexandre Kramer não propõe soluções utópicas para  resolver todos os problemas sociais que nos assolam todos os dias como um arrogante revolucionário panfletário, pois seus questionamentos vão muito além da simples revolta social coletiva. Seus poemas denunciam, de forma visceral, questões existenciais que não são transparentes nem óbvias em um status quo dominante.

As rimas irregulares, a ausência de métrica e cadências diversificadas conferem um tom bastante leve aos poemas de forma geral, tornando a leitura fácil e agradável. Seus poemas são de extremo bom gosto, dignos de leitores atentos aos meandros poéticos dos mais rigorosos. Resta esperar o Sr. Alexandre Kramer definir um título ao livro e publicá-lo. Enquanto isso não acontece, seguem dois poemas do volume para apreciação do leitor.

Concreto

Troncos pontiagudos
Cinzas
Pontudos
Olhando
O
Céu
ceu
fel
re
fel
teu
No
céu
mor
reu
Ca
bo
Se
fo
Descobriu
o
cheiro
podre
da
vi
da
vi

vi

vi
da

estou curado!

Mundo de poeta

Para Pessoa
o poeta finge.
Para mim
O poeta mostra o mundo.
O mundo é um fingimento,
E o fingimento é o mundo.
Se Pessoa tem o mundo como um fingimento,
eu tenho um fingimento como o mundo.
Somos duas pessoas
Reféns desse mundo fingido.
Eu e Pessoa,
Fingindo um mundo
por querermos viver
Onde exista apenas a nossa verdade
E não precisemos fingir para viver de verdade.   

ESTRELA DIFUSA

  O tempo é o fator que talvez possa explicar melhor algumas coisas que simplesmente não escolhemos; ou melhor, insistimos em dizer que não ...