quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

ENTREVISTA WILLIAM TECA

(Foto: Mariana Bittencourt)

Um dos objetivos do Távola Redonda para 2020 é publicar uma série de entrevistas, em sua maioria, com autores locais. Começamos a série com o grande poeta William Teca, que lança amanhã (30/01), no espaço Mímesis Conexões artísticas (Rua Celestino Júnior, 189. São Francisco), a partir das 19h, seu terceiro livro, meia com amargo (Kotter Editorial). O lançamento ocorre no evento Quinta com poesia, parceria da Kotter Editorial com o coletivo Mímesis, que acontece todas as quintas com lançamentos, performances e saraus. Confira a breve troca de ideias com o Teca.


Távola Redonda - Teca, em seu novo livro, meia com amargo, você demonstra um apuro estilístico bastante intenso. E pude notar um estilo (pode-se chamar de assinatura?) próximo ao seu primeiro livro, Sinistros insones. O que mudou do Sinistro para o Amargo?

William Teca - sinistros insones foi meu primeiro livro, então ele representa um arco bem maior de tempo, ainda que eu tivesse um projeto na cabeça que obedecesse a uma temática comum, ali estão poemas que vão desde os tempos em que eu fazia recitais até coisas que foram publicadas em vários lugares, eu diria que é um tipo de pedra fundamental às coisas que eu vou pouco a pouco desenvolvendo e temáticas que me interessam e, principalmente, onde comecei a aplicar um tipo de dicção e linguagem que já têm uma boa dose de aprimoramento, mas que lentamente vou trabalhando, é um livro mais espontâneo e casual, mas que resiste bem. meia com amargo já é fruto de um planejamento e aprimoramento maiores, digamos que nele eu já tenho um pouco mais de consciência do que estou fazendo, desenvolvendo algumas das coisas que somente apontei em sinistros insones. Embora algumas das temáticas sejam comuns a ambos (eu não posso falar de um universo que não seja o meu), acredito que em meia com amargo a coisa toda deu um passo adiante. Ainda que aparentemente as minhas “abelhas domésticas” sejam conhecidas de todos, creio que em ambos os livros a grande dificuldade é uma suposta facilidade de abordagem por parte dos leitores, que pode fazê-los deslizar e optar pela obviedade nas sínteses que faço, o que, naturalmente, não é o caso. Outro aspecto importante é que em ambos há uma clara (ao menos isso) busca por uma linguagem que não seja caduca e “necroverborrágica” (pra usar uma expressão do Jorge Barbosa Filho) e sim que caiba na minha boca.

TR - Você já afirmou que o cara que se preocupa com divisão de gêneros literários é um "tonto". Você mantém essa afirmativa? Por quê?

WT - Em minha defesa devo dizer que eu disse isso me dirigindo a autores iniciantes (ainda que todos sejamos iniciantes de um jeito ou de outro) e a Luana me pegou num dia de ovo viradíssimo; mas, creio que o ponto fundamental é que pra quem escreve esse tipo de discussão é completamente irrelevante, vou fazer uma comparação que pode parecer confusa, mas que na minha cabeça funciona: o genial Hermeto Pascoal disse várias vezes que o importante é aprender a tocar e depois você vai atrás da teoria musical, é mais ou menos por aí. Além do que, ao menos o que a minha experiência acadêmica mais recente me mostrou, esse tipo de conversa é papo furado de quem quer mais turvar as águas do que ser esclarecedor, quando o cara começa a teorizar demais é porque está enrolando, por isso, creio eu que falta tanto senso crítico na discussão sobre literatura e arte de uma maneira geral. Sabe a historinha do mestre zen que aponta a estrela e o discípulo olha o dedo? então, é por aí. Quando o Aristóteles começa a usar esse instrumental categórico lá na Poética, o objetivo dele é investigar a origem da mimese (uma intraduzível pedra no sapato de quem investiga esse tipo de troço chamado arte e, interpretativamente falando, um dos maiores equívocos repetidos da história da arte), aliás o grande foco da poética. Falar de literatura é fundamental, então falemos de literatura. É uma questão que, como diz o Croce, depende mais da “expressão de impressões”, como o cara vai fazer isso já é outra coisa. Então, de minha modesta perspectiva, a grande preocupação tem que ser em sentar a bunda e escrever, se o sujeito se senta na frente do computador (ou máquina de escrever ou mesmo se é um purista do papel e lápis) e fica no dilema: “Ai...vou escrever poesia ou é prosa?”, é melhor ir fazer outra coisa da vida. Além disso, que já registra meu mau humor sobre o tema, basta dar uma olhadinha nos grandes medalhões da literatura e ver que essas fronteiras já foram colocadas abaixo há bastante tempo.

TR - A seu ver, como está a cena literária em Curitiba atualmente?

WT - a minha turma conheceu uma Curitiba literariamente diferente, creio que naquele tempo as coisas eram mais penosas, havia uma grande dificuldade em publicar um livro, o que se evidencia que caras como eu o Justen e o Jorge tenhamos publicado tão tardiamente. Creio que essa facilidade de publicar é uma coisa bem legal, o que nos falta, já que temos muita gente publicando, é uma crítica que realmente funcione e seja lida. O papel do crítico, o cara sensível com um arcabouço cultural e humildade suficiente para apontar caminhos e desvios praticamente inexiste. E não estou falando de crítica acadêmica, falo do cara que é capaz de falar e ser ouvido e lido pelos reais consumidores de literatura. Formar leitores é uma preocupação que deveria ser concomitante com o nosso nível de produção, produzir publicações com e sobre as pessoas que ainda estão vivas, encontros de literatura e não meramente seminários acadêmicos, provavelmente é o que falta para que tenhamos uma cena literária cada vez mais forte e produtiva, e também pra separar o que é notório do que é irrelevante. Mas, a despeito disso a coisa vai bem, e algo que considero bem interessante é que as pessoas se leem mutuamente e se consomem mutuamente, essa troca de experiências é fundamental.

TR - No seu meia com amargo você dedica um poema ao grande poeta Marcelo De Angelis. Como era sua relação com o Marcelo? O conheceu em qual circunstância?

WT - conheci o Marcelo num bar, apresentado por alguém que não me lembro (foi uma daquelas noites de boêmia dos meus áureos tempos de vida noturna), lembro que conversamos um pouco e nos demos bem. Um tempo depois, eu fui convidado para dar um curso sobre Poesia Concreta na Caixa Cultural e o Marcelo foi lá ouvir o que eu tinha pra falar, creio que foi aí que viramos amantes (já que a gente se via pouco pessoalmente, hehehe), desde então conversávamos bastante pela internet e sempre que nos víamos já tínhamos engatilhados os tópicos das conversas. O Marcelo foi uma das pessoas mais generosas intelectualmente que conheci e de uma sensibilidade ímpar, além de um sutil senso de humor. A última vez que o vi foi na praça Osório, era umas sete horas da manhã e estávamos ambos indo ao médico, batemos um papo de meia hora em pé, entre os transeuntes da praça. Um tempo depois, a Luana me disse que ele havia morrido, daí fiz o poema, uma singela homenagem a um cara que realmente foi marcante e que merece ser lembrado.

TR - O que podemos esperar do lançamento meia com amargo na quinta-feira?

WT - lançamento de livro é sempre uma incógnita, lançamento de livro de poesia é uma incógnita maior ainda. Mas, eu espero que quem comparecer se divirta porque eu pretendo me divertir. Além disso, é uma excelente oportunidade de ver e ouvir os poemas ao vivo, na sua dicção e respiração e não só na partitura que é o livro.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Lançamento Meia com amargo - William Teca





Sim, a cena literária curitibana é prolífica e pujante. Aqui há uma tradição (desde tempos longínquos) da récita poética, que já reuniu poetas de diversas vertentes em tertúlias das mais variadas. A poesia feita não apenas para ser lida, mas para ser dita, é bastante relevante na cena literária da capital paranaense. 

Curitiba acabou ficando órfã de um dos movimentos literários mais relevantes dos anos 2000 para cá quando o Vox Urbe (sarau comandado pelo poeta Ricardo Pozzo) deixou de ser um evento semanal no extinto Bar Wonka. Claro, há outros movimentos e saraus-coletivos, mas o Vox, por mais que ainda exista e aconteça, não tem a mesma periodicidade.

Um dos movimentos que acontece atualmente em Curitiba é promovido pelo coletivo Mímesis Conexões artísticas e Kotter Editorial (no próprio espaço do Mímesis), todas às quintas-feiras. Por ser um evento semanal desde o ano passado (com lançamentos de livros, apresentações, performances) os encontros têm público certo toda semana.  

Dentre tantos poetas que participaram das noites no porão do Wonka, William Teca está entre os grandes. Nascido na capital em 1975, publicou Sinistros insones (2017) e Dois Contos. Teca é poeta, tradutor e músico. Lança no próximo dia 30 de janeiro seu novo livro, Meia com amargo (Kotter Editorial). Sua poesia apresenta uma linguagem apurada e até os poemas mais (aparentemente) coloquiais, exigem atenção redobrada durante a leitura.

A ruptura com a sintaxe convencional vai pregar diversas peças naqueles leitores menos atentos. Teca não intitula nem enumera seus poemas; vai da linguagem coloquial à erudita durante a mudança de um verso para outro, o que demonstra seu domínio do discurso poético como um todo. 

O lançamento ocorrerá no Espaço Mímesis Conexões artísticas, na próxima quinta-feira a partir das 19h00.


Serviço
:

Meia com amargo - Lançamento de William Teca


30 de janeiro - quinta-feira - 19h00


Mímesis Conexões Artísticas


Rua Celestino Júnior, 189 - São Francisco



ESTRELA DIFUSA

  O tempo é o fator que talvez possa explicar melhor algumas coisas que simplesmente não escolhemos; ou melhor, insistimos em dizer que não ...