sexta-feira, 6 de março de 2020

TÁVOLA REDONDA ENTREVISTA - DJAMI SEZOSTRE




Nesta edição de Távola Redonda Entrevista, tivemos uma ótima conversa com o poeta Djami Sezostre, uma das vozes mais originais da poesia brasileira contemporânea. 

O fauno Djami Sezostre, descendente de indígenas, egípcios, portugueses, é natural dos cerrados do Triângulo Mineiro, Brasil, 17 de abril de 1971. Filho dos sertanistas Antônio Sezostre e Ovídia Palmeira, pai de Dríade, Jade, Gaia. Criador de uma nãolíngua selvagem através da Poesia Biossonora e da Ecoperformance, com espetáculos apresentados no Brasil e América Latina, Europa e África. Autor dos livros: Lágrimas & Orgasmos, Águas Selvagens, Dissonâncias, Moinho de Flechas, Cilada, Solo de Colibri, Çeiva, Pardal de Rapina, Anu, Arranjos de Pássaros e Flores, Cachaprego, Estilhaços no Lago de Púrpura, Yguarani, Silvaredo, Z a Zero, Eu Te Amo, Onze Mil Virgens, O Menino da sua Mãe, Zut, Cavalo & Catarse, Salmos Verdes, O pênis do Espírito Santo, Cão Raiva, Óbvio Oblongo. Djami Sezostre é uma lenda, traduzido e publicado em português, inglês, espanhol, francês, italiano, alemão, finlandês, grego, búlgaro, húngaro. 

Confiram!


1. Djami, primeiramente, muito obrigado por conversar conosco do “Távola Redonda”. Um prazer pra nós. Gostaria de começar perguntando o seguinte: quem é o Joaquim Palmeira, o Wilmar Silva e o Djami Sezostre?

Djami Sezostre é um fauno, eu dissolvi a sua vida na poesia. Se o tempo é uma lâmina, o que fazer então com as águas? Eu é um outro. Rimbaud me falou sobre um encontro Au Cabaret-Vert com  Joaquim Palmeira e Wilmar Silva, quando devem assumir de vez a condição de natureza. Afinal, a vénus anadyomène foi vista com Djami Sezostre, camuflado de Rudá, nas terras das Onze mil virgens. 

2. Sua poesia em Estilhaços no lago de púrpura (livro de 2009) é bastante diferente do que você fez em O pênis do Espírito Santo, Çeiva, Cão raiva e Óbvio oblongo, por exemplo. Como deu-se essa mudança estilística? 
Sim, eu estou em busca não apenas da poesia em todos os sentidos, mas a partir da língua em metamorfose, revelar a vida em sua explosão. Assim não é possível ler ou falar de nenhum livro meu sem antes penetrar a língua das espécies, hibridamente mineral, vegetal, animal, porque humana. 
3. Percebo um grande hiato entre as obras de Wilmar Silva e do Djami Sezostre. A evidente mudança de estilo relaciona-se, de alguma forma, com a mudança dos nomes? Por quê? 
Senhor Osiecki, eu não conheço a poesia de Wilmar Silva. Não me execre, por favor, mas confesso que eu queimei os seus livros em rituais durante uma aurora boreal. Surpresa para mim aconteceu ao passar um tempo na fazenda Onze mil virgens e lá conheci a família Sezostre que hasteava nas paredes imagens de um menino em metamorfose. En vérité, esse menino seria Djami Sezostre, descendente de indígenas, egípcios, portugueses. Ancestral feito o sexo.
4. Em Estilhaços no lago de púrpura (2009) você adverte o leitor que é um poema longo e único. Como foi o processo de escrita desse livro?
Não acredite! Mas eu queria escrever um livro anterior a qualquer consciência humana, como aconteceu, por exemplo, com o livro Cachaprego. Estilhaços no lago de púrpura é um texto apócrifo, tirado de um orgasmo na quaresma com Jesus Cristo, enquanto o Espírito Santo me beijava a boca.  
5. Podemos chamar Estilhaços no lago de púrpura (2009) de um livro híbrido? Talvez por se aproximar muito de narrativas fragmentadas...
Estilhaços no lago de púrpura se articula contra tudo aquilo que é a natureza da poesia. Ah, Estilhaços no lago de púrpura, que está esgotado no Brasil, foi traduzido ao inglês, espanhol, francês, alemão, finlandês.
6. Tenho a honra de ser seu parceiro de editoras: ambos publicamos pela Kotter Editorial e pela Olaria Cartonera. Como foi pra você publicar o seu Arranjos de pássaros e flores nesse formato cartonera? (dos bravos amigos Marco Aurélio de Souza e Felipe Teodoro)
Ah, Osiecki, que cercle zutique! E que maravilha sentir Arranjos de pássaros e flores assim, uma edição bilíngue, em português e em húngaro, com tradução de Sófia Pilhal.  
7. Em Cão Raiva e em Óbvio oblongo aparece uma série de poemas intitulada Currutela. Há um espaço de tempo de publicação bastante curto entre os dois livros. Mudou muita coisa entre as duas versões? Por que publicar novamente?
O que é mesmo o tempo, Senhor Osiecki! O tempo lá onde a noite é mais sol?
8. Percebe-se em alguns livros seus, como em O pênis do Espírito Santo, Cão Raiva e em Óbvio oblongo, além da ruptura com elementos mais convencionais da linguagem, alguns artifícios com o enjambement. Esse artificio atrai bastante você, não?
Se a minha mãe é virgem, eu sou filho de quem, afinal? Eu sou contra a poesia em estado apenas de liberdade, eu quero o que não existe.  
9. Djami, você faz um trabalho que mescla a artesania literária, quer dizer, o trabalho com a escrita poética, com performances bastante variadas (cênicas, musicais). Como é sua relação com ambas?
Natural, eu sou uma espécie de arco-íris. 
10. Pra encerrarmos, gostaria que você falasse sobre os elementos que configuram a Poesia Biossonora
Vamos esperar pela publicação da antologia Poesia Biossonora, no prelo pelo Selo Demônio Negro, de São Paulo.
11. Djami Sezostre, muito obrigado pela gentileza em falar com o “Távola Redonda”. 
Rá ao Deus do Sol. 

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