quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

De volta às estantes



(Artigo publicado originalmente no Jornal Relevo - Dezembro 2013. Posteriormente publicado na Revista Bem Público - Janeiro 2014)
 
O mercado editorial curitibano é praticamente irrelevante no cenário nacional mas está crescendo. Mesmo que ainda seja bastante restrito a autores paranaenses não muito conhecidos fora do estado, é um mercado em ascensão. Há alguns anos havia duas possibilidades para escritores iniciantes ou pouco conhecidos: bancar suas edições ou submetê-las a editoras maiores de outros estados.

A primeira opção era a mais certa, mesmo porque as editoras consagradas raramente arriscavam publicar alguém desconhecido nacionalmente. Ainda hoje funciona dessa forma hoje em dia, mas a diferença é que pequenas editoras foram surgindo ao longo dos anos, o que serve de vitrine para escritores ainda anônimos. Há também algumas leis que incentivam à cultura, as quais subsidiam publicações que editoras convencionais normalmente não publicariam.

Paulo Leminski (1944 – 1989) um dos maiores poetas curitibanos, bancou suas primeiras edições. Catatau (1975), seu primeiro romance, só foi editado porque Leminski foi persistente e também contou com a ajuda financeira de amigos. Atualmente há algumas editoras que publicam a obra de Leminski, como a Iluminuras e a Companhia das Letras, gigante no cenário nacional, ambas de São Paulo.

Jamil Snege (1939 – 2003), outro grande escritor curitibano, por motivos familiares ainda não teve sua obra reeditada. Escritor curitibano dos mais originais e atualmente fora de catálogo, Snege impressiona muito por seu deboche e cinismo. Sua escrita é aparentemente leve e acessível sem medo de ser simples. Snege não poupava ninguém de seu olhar crítico e irônico (nem si próprio) e seu humor era bastante ácido. Mas por algum motivo ainda não despertou interesse das grandes editoras brasileiras. Snege, assim como Paulo Leminski, publicou por conta própria seus primeiros livros. Em Curitiba a Editora Travessa dos Editores publicou parte de seus livros.

Duas recentes editoras de Curitiba, Kafka e Arte e Letra, estão reeditando a obra do escritor catarinense Manoel Carlos Karam. Figura conhecida nos meios literários curitibanos, Karam se mudou para a capital paranaense em 1966 e aqui permaneceu até morrer, em 2007. Deixou uma obra vasta e original, mas assim como a obra de Jamil Snege, pouco conhecida.

Seus romances O Impostor no Baile de Máscaras, Fontes Murmurantes e Cebola foram reeditados pela Kafka. Já os romances Comendo Bolacha Maria no dia de são nunca e Pescoço ladeado por parafusos foram reeditados pela editora Arte e Letra.

Karam e Snege são muito comparados não apenas pelo modo como viveram e pelos meios que frequentaram, mas pelo próprio estilo literário de cada um. Karam pendia mais para um humor reflexivo não se dirigindo especificamente a ninguém, mas à condição humana como um todo.

Snege, assim como Karam, é um dos grandes escritores curitibanos que não tiveram seu devido mérito reconhecido em vida. Foram verdadeiros escritores de vanguarda em vida e continuam sendo postumamente. A obra de Paulo Leminski esperou 24 anos para ser reconhecida de forma mais expressiva nacionalmente por público e crítica. Esperamos que Jamil Snege e Manoel Carlos Karam levem menos tempo.
 

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