A primeira vez que ouvi
falar sobre haicai foi no livro Pão e
Sangue (1988), de Dalton Trevisan, ainda no ensino médio. O velho me fisgou
tanto que fui procurar outros autores de haicais. Decidi ir direto na fonte: Bashô
foi uma revelação, principalmente depois de ler a biografia do Leminski sobre o
mestre japonês. Certamente depois compreendi a malícia de Dalton naqueles
haicais, e poetas como Alice Ruiz, Mário Chamie e outros não me agradaram por
completo.
No final do ano passado,
Álvaro Posselt, poeta curitibano conhecido do Jornal Relevo, publicou seu
segundo livro, Um lugar chamado instante
(Editora Blanche, 79.p.). O volume apresenta ilustrações de Bruno Marafigo que
acompanham vários dos 60 haicais que compõem o livro.
O projeto gráfico é
bastante parecido ao livro anterior de Posselt, Tão breve quanto o agora (2012), também publicado pela Blanche. Em Um lugar chamado instante Posselt
apresenta os mesmos elementos de seus haicais do primeiro livro, mas ainda
assim surpreende. A noção de brevidade do indivíduo, suas impressões sobre o
cotidiano e pequenos flashes sobre
aparentes banalidades são elementos caros a Posselt.
Posselt, além de dominar a
técnica do haicai, apresenta um humor fino e óbvio que está presente em boa
parte dos poemas.
Curitiba nos maltrata
Hoje eu saí de blusa
Ao invés de regata (p.43)
Clara alusão ao
clima sempre instável de Curitiba, que tanto aborrece o curitibano que o torna
rabugento. Posselt, nas entrelinhas, brinca com essa “identidade” soturna
curitibana.
A intertextualidade
é explorada por Posselt em alguns poemas. Há referências a Bashô e Poe que são
facilmente identificáveis pelo leitor, mas sem serem simplistas. A
transparência dos poemas surpreende porque fica evidente o esmero de seu autor
em ser direto e preciso. E Posselt consegue atingir esses objetivos sem cair no
abismo da banalidade.
Lembranças do mestre -
Sobre o lago de Bashô
Voam as libélulas (p.67)
O poema que faz
referência a Poe é tão cristalino e objetivo, que só um poeta que domina a
técnica seria capaz de produzir.
Lenore, mas que estorvo!
Do poema de Poe
Deixei escapar o corvo (p.55)
Os poemas de Um lugar chamado instante estão mais
maduros que os poemas de Tão breve quanto
o agora, o livro anterior de Posselt. Parece que Posselt aprimorou ainda
mais a técnica do haicai que já demonstrava dominar no livro de estreia. É por
essa leveza de verso em verso aliada à técnica que Posselt prova ser um poeta
bastante original. Ele aponta o que vê fugindo de armadilhas estilísticas nas
quais, às vezes, poetas experientes insistem em cair.
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