Alguns
dizem que há predestinação ao escolher um clube de futebol. Também há aqueles
que dizem que não há escolha por parte do torcedor, mas que ele, o torcedor, é
escolhido. Ainda há aqueles que escolhem o clube por meras convenções, como
amparo midiático, títulos, elenco, vitórias em demasia etc.
Todas essas
questões são verdadeiras e falsas ao mesmo tempo. Vejam meu caso, por exemplo.
Sou botafoguense desde o dia 21 de junho de 1989, porque meu pai torcia pelo
Botafogo; e uma criança ver o pai vibrando e chorando por um clube de futebol
seguramente é um divisor de águas em sua vida, sobretudo sendo esse clube de
outra cidade e que não ganhava títulos há mais de duas décadas.
É claro
que não há metafísica nessa relação, não há predestinação cósmica e tampouco superstições.
Assim como na vida, no futebol sou pragmático. Meu pensamento marxista
endureceu meu couro para muitas coisas, mas quando o Botafogo entra em campo a
magia começa. Como falei, nada metafísico, mas o lado passional compete com o
pragmático e os níveis de ansiedade tornam-se estratosféricos.
Em jogos
decisivos, como contra o São Paulo, contra o Palmeiras, contra o Peñarol, é
como se durante os 90 minutos eu e meu irmão dialogássemos com nosso pai, e a
estrela solitária pulsasse cada vez mais forte, e vem num crescendo arrebatador
e, mesmo quando não fazemos gols, mesmo quando fazemos jogos horrorosos,
passados os momentos de raiva e frustração, vêm os momentos de acalanto e de
pura paixão e o desejo atávico de gritar em altos brados, “FOGO! FOGO! FOGO!”
Essa
relação não precisa, e nem deve, ser explicada. Ela simplesmente acontece e
pronto. Está tudo certo. Assim como está tudo certo sentir raiva, se frustrar,
chorar, se emocionar. O Botafogo é isso, raiva, angústia, frustração, emoção,
mas também camaradagem e alegrias. Loucos guiados por uma estrela solitária,
sim, sempre solitária que nesta odisseia pela glória em um entrelugar, é o
grande luzeiro do botafoguense, que tem um quê de lunático, um quê de clown,
enquanto a Estrela Solitária é nosso chaperon. Isso já deu vontade de bradar,
mais uma vez, “FOGO! FOGO! FOGO!”
Sensacional, sensação que somente quem vive entende! Eu vivo Botafogo por alguém que já viveu !
ResponderExcluirEspetacular esse texto! Reflete o que acontece com muitos torcedores que levam essa paixão pro resto da vida... Esse é o meu caso!
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