A poesia brasileira atual
às vezes parece estar tão incógnita que fica difícil separar bons e maus
poetas. O leitor de poesia é, antes de mais nada, assim como o próprio poeta,
um sobrevivente, um resistente, um revolucionário. Quem, além dos diletos
leitores do nosso bravo periódico e meia dúzia de acadêmicos, lê poesia hoje?
Imagino que não haja muitas respostas possíveis. Nem é preciso.
Há uma boa e consistente
safra de poetas curitibanos atuais. Curitiba não é mais a retrógrada,
reacionária e carola capital de um simbolismo tardio e capenga que perdurou
graças à meia dúzia de poetas bairristas de igreja. As fronteiras se abriram e
o terreno literário local se expandiu. Tanto que escritores de outras cidades e
estados vivem em Curitiba, como Cristóvão Tezza, Roberto Gomes, José Castelo e
Décio Pignatari (morto em dezembro do ano passado)que viveu em Curitiba desde
1999.
Renato Vieira Ostrowsky,
carioca, atualmente vive em Campo Magro. Engenheiro civil de formação, é na
poesia que se encontra e desencontra consigo próprio todos os dias. Publicou em
2012 seu primeiro e tardio livro, Opaca
Transparência (Editora Kairós, 122 p.).
Opaca
Transparência é dividido em seções organizadas com
alguma aproximação temática ou estrutural entre os poemas. A poesia de
Ostrowsky é bastante clara, direta, quase cristalina, flerta com o óbvio de um
cotidiano aparentemente banal, mas o faz com pleno domínio da forma e técnica
poética. Passeia por terrenos mais formais, com versos mais rigorosos, rimados,
e também por formas bastante livres, praticamente devaneios filosóficos ou
aforismos inseridos em um formato versificado.
Outro fator positivo são
as constantes referências ao próprio fazer poético, assumindo a metalinguagem
como objeto de reflexão e labor. O flerte com a poesia concreta é explorado com
responsabilidade, não tornando o livro como um todo uma coletânea de poesia
concreta, mas cria diálogos atemporais com o concretismo. Há vários exemplos de
fortes e bem sucedidos apelos visuais, como nos poemas Obtuso dicionário e Espigão.
Este último, apesar de ter uma forma já usada pelos irmãos Campos com
freqüência (cada verso apresenta uma única palavra. Os irmãos Campos
denominavam essa forma de poema de poema
claustrofóbico), Ostrowsky nos brinda com um poema bem construído e
original.
Ostrowsky deixa um pouco a
desejar em alguns poucos poemas em que se refere ao fazer poético como um dom
quase divino e em alguns casos beira a carolice ao modo de Helena Kolody, como
nos poemas Simplicidade e Vida Viva. Mas Opaca Transparência apresenta mais pontos positivos do que
negativos.
Como um todo é um belo
livro com poemas fortes. Ostrowsky geralmente acerta de primeira nos títulos
dos poemas, como no belo Terno de vidro
sem gravata e licença poética, no qual Ostrowsky escreve: “Vesti meu terno
de vidro/exerci minha opaca transparência/me apaixonei pela vida/bradei meu
grito de independência”. Por que opaca? Para os outros? Para si próprio? E essa
independência só é alcançada com a poesia.
Renato Vieira Ostrowsky é
um criador de imagens, de metáforas e um habilidoso poeta que apresenta
diversas faces poéticas desde versos rimados e mais tradicionais a formas mais
livres e despojadas com elementos da coloquialidade. É um belo livro de estréia
que só um poeta experiente poderia produzir.
Gostaria de parabenizar pela obra, a melhor dos últimos tempos, a forma com q o autor coloca as metáforas o faz ir a uma viagem literária. Um forte abraco
ResponderExcluir