(Artigo publicado originalmente no Jornal Relevo - Janeiro 2014)
Durante o ano de 2013
ocupei meu singelo espaço neste bravo periódico resenhando escritores
curitibanos (ou residentes em Curitiba) que não estão em evidência na mídia.
Vários deles são meus amigos pessoais, o que nunca me impediu de aplaudir os
acertos nem apontar as falhas. Dilema moral já apontado pelo heterônimo Álvaro
de Campos ao se referir ao ortônimo Pessoa: “Sou demasiado amigo de Fernando Pessoa para dizer bem dele sem me
sentir mal: a verdade é uma das piores hipocrisias a que a amizade obriga”.
Neste
primeiro texto de 2014 é com a consciência tranquila (diferente de Álvaro de
Campos) que falo bem da Antologia novos
autores curitibanos: 60 crônicas, poesias, contos, publicada pela Gusto
Editorial. A antologia é o resultado de um concurso literário organizado pelos
curadores do Festival Literário Litercultura, que selecionou vinte poemas,
vinte contos e vinte crônicas.
A
coletânea como um todo, diferente do que apontaram os organizadores na
apresentação do livro, não é um volume “quase homogêneo”. Há textos de
escritores já experientes, com obras publicadas e em contrapartida também há
textos de iniciantes, alguns muito juvenis, principalmente na seção de poesia.
A antologia peca nesse aspecto, pois não segue um padrão de qualidade do início
ao fim. Porém a iniciativa é mais que válida, pois serve como um sopro de
entusiasmo à escrita que todos iniciantes precisam.
O que a
antologia apresenta de melhor é a seção de crônicas, mostrando ótimos cronistas
que acertaram a mão em reflexões cotidianas das mais variadas. A começar pela
bela crônica Arte sem intelecto, do jovem Gustavo Moreira, na qual discorre sobre os tortuosos e
sombrios caminhos da arte contemporânea e sua permanência em uma sociedade
apática, fútil e rasa. Texto escrito com vigor, mostrando um jovem talentoso e
preocupado com questões estéticas relevantes.
Outra
crônica que vale ressaltar é Machado VS. Nietzshe, do grande poeta Renato Vieira Ostrowski. A crônica de Ostrowski nos
mostra uma situação que é familiar a muitos: os embates com a burocracia de uma
repartição pública. Há fila pra tudo, o tempo parece não passar e a má vontade
dos funcionários é evidente. O narrador “vítima” só se conforta com um volume
de Ferreira Gullar que carrega em baixo do braço. E conforme a manhã vai passando
ele procura observar o que os outros estão lendo naquele momento. É uma
atividade curiosa e perturbadora ao mesmo tempo.
Ostrowski
mostra em Machado VS. Nietzshe que além de grande poeta é um grande cronista. Em conversa recente com
Renato disse que ele é conciso, direto e preciso como um Moacyr Scliar e
erudito como um Nelson Rodrigues. Agradável surpresa.
A seção
de contos é bastante heterogênea. Há textos muito bons e outros irrelevantes.
Um dos contos que merece destaque é Entremares, de Eliege
Pepler. Temos uma narradora em primeira pessoa que relembra acontecimentos de
seu passado. Em alguns momentos o tom memorialístico de Eliege lembra Inês
Pedrosa, com um certo grau de erotismo.
A Antologia Novos Autores Curitibanos: 60
crônicas, poesias, contos tem um saldo positivo. Mesmo havendo muitos
textos de autores imaturos, a antologia deve servir como um estímulo aos
iniciantes para continuar escrevendo e aprimorar questões de técnica e estilo
que só vêm com o tempo. Aos experientes e às exceções da regra, Evoé!
seguinte, meu chapa, o texto arena conta zumbi é de gianfrancesco guarnieri e augusto boal e não somente do boal, como eu tinha te falado.
ResponderExcluire o livro em questão é literatura e revolução (ufmg) com os seguintes textos os quais podem lhe interessar:
O COTIDIANO PÓS-REVOLUCIONÁRIO NA OBRA DE ANTONIO LOBO ANTUNES - ALEXANDRE MONTAURY;
TRADUZIR O IMPÉRIO COM ANTONIO LOBO ANTUNES - BIAGIO D'ANGELO;
A "POLÍTICA ATLÂNTICA" DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUES - O CASO DA CONFEDERAÇAO LUSO-BRASILEIRA - CRISTIANE D'AVILA;
Outra:
ResponderExcluiro autor que tu estás resenhando se chama Rui Werneck de Capistrano? Peguei o Máquina de escrever para ler e gostei da doidera.
abraços
Compadre Giuliano, valeu pelas indicações. estão devidamente anotadas. É o Rui Werneck de Capistrano que estou resenhando, sim. Estou escrevendo sobre um romance intitulado Nem bobo nem nada. Coisa fina. Abraço.
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