(Artigo publicado originalmente no Jornal Relevo - Maio 2013)
Descobrir autores novos é
uma experiência interessante. Ler algum desconhecido que pouca gente leu é um
desafio e ultimamente tornou-se uma obsessão. Nas minhas andanças pelas livrarias
e sebos de Curitiba em busca de autores curitibanos não contemplados pela
grande mídia descobri muita gente. Escritores que estão escondidos em suas
alcovas bem longe do público leitor.
Em uma visita à loja das
Livrarias Curitiba da Rua XV, num daqueles momentos ímpares em que entramos em
uma livraria sem compromisso algum, sem nenhuma pressa, escondido entre
Cristóvãos Tezzas e Daltons Trevisans (na seção de autores paranaenses), estava
um pequeno volume intitulado Pequeno
Perfil curitibano:numa tarde apocalíptica e noutra ensolarada, de Jul
Leardini. Mais que prontamente retirei o exemplar da estante e olhei nas outras
prateleiras tentando encontrar outros livros do mesmo autor. Não encontrei, e
com o livro devidamente comprado, não pude parar de pensar no título, que me
encantou. Esse é o perigo em encontrarmos um conterrâneo literato: criamos mil
expectativas.
Jul Leardini nasceu na
cidade de Cianorte, em 1961, mas veio cedo para Curitiba, com cinco anos de
idade. Publicou Contos e Encontros
(1991), No Mundo dos seres diáfanos
(2003), Pequeno perfil curitibano: numa
tarde apocalíptica e noutra ensolarada (2005) e peças de teatro, como Pacto da Mediocridade (2004), O Discurso da América (2004), Aos poucos ouvidos moucos que virão
falaremos um pouco da nossa escuridão (1999) entre outras.
Em Pequeno Perfil Curitibano: numa tarde apocalíptica e noutra ensolarada
(publicado pela Lei de Incentivo à Cultura), Jul Leardini reúne sete contos que
não apresentam nenhuma unidade temática entre si. O conto inicial, que dá
título ao livro, passa a falsa impressão de que o autor abordará algumas
questões sobre a origem da casmurrice curitibana. Neste primeiro conto Leardini
tenta entrelaçar duas narrativas paralelas, mas o resultado é uma breve e rasa
tentativa de fluxo de consciência. O título do conto é muito mais denso do que
o próprio conto.
O conto seguinte, O herói brasileiro, apresenta diálogos
artificiais demais em situações pouco exploradas que acabam se tornando
amontoados de acontecimentos que tentam fazer algum sentido. A falta de
verossimilhança é uma constante em quase todos os contos. Basicamente, o conto
narra uma situação em que um empresário rico da capital vai até uma cidade não
nomeada do interior para comprar as últimas terras disponíveis ainda nas mãos
de um fazendeiro local. Leardini evidencia o tempo todo um maniqueísmo juvenil
e panfletário no qual o explorado (o fazendeiro com princípios morais e éticos)
não se corrompe ao poder avassalador capitalista. Leardini também peca na construção
destes diálogos entre o empresário e o fazendeiro usando em demasia uma
linguagem fora de contexto e o pretérito imperfeito.
Nessa altura, pessimista
por natureza, não imaginava que pudesse encontrar algo relevante pela frente. O
terceiro conto, O Espelho, faz
justiça à força e beleza do título do livro. Conto denso, esteticamente bem
construído, alterna duas vozes de um personagem enigmático que faz referência
ao assassinato de uma mulher. Durante toda a narrativa há uma atmosfera
onírica, delirante e noir que confere
uma marca autêntica ao autor. As imagens refletidas em um espelho em estilhaços
tratam da questão da dificuldade do indivíduo em se encontrar. É uma belíssima
metáfora sobre identidade.
O
Espelho é o que o livro apresenta de melhor. A relevância do
livro começa e termina com este conto. Os contos que vêm a seguir voltam a
apresentar os problemas de estrutura dos contos iniciais. Contradança é composto por uma quantidade absurda de adjetivos,
tornando a leitura complicada e aborrecida. A composição da narrativa é
descontínua, quase ao nível da redação de vestibulandos.
A seguir vem Tal um, qual outro, conto em que
Leardini deixa transparecer pequenas lições de moral sobre honestidade e a
culpa daqueles que são desonestos. Isso depõe contra sua literatura, pois não é
papel da ficção apresentar conflitos moralizantes para, em um movimento
catártico, chegar a um momento nevrálgico. Também há claramente um descontrole,
uma falta de domínio do uso do foco narrativo.
Sete
de Setembro e O
Cisne fecham o volume sem surpreender. Também mostram um autor inexperiente
que não domina a técnica narrativa e com exceção do belíssimo O Espelho, não tem muito a dizer na
narrativa curta. Quem sabe Jul Leardini guarde um volume inédito seguindo a
linha de O Espelho. Minha busca
ainda não cessou.
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