Em uma
época tão diluída como atualmente, é quase perda de tempo se preocupar com
delimitações de gêneros textuais. Conto e crônica, romance e novela e
discussões que visam uma espécie de análise um tanto quanto rasa das obras em
questão. Claro que a distinção de gêneros ainda pode ser facilmente percebida
em determinadas obras, mas o foco central é o trabalho linguístico, a arte de
trabalhar a palavra, a artesania do texto.
Gênero
um tanto injustiçado, a crônica, geralmente por sua própria origem em retratar
questões relacionadas ao cotidiano, ou seja, que envelhecem rápido, torna-se
defasada em um tempo bastante curto. Se a crônica tem por finalidade abordar
temas políticos ou esportivos, por exemplo, seu processo de envelhecimento é
ainda mais rápido e natural, pois os assuntos diários vão se sucedendo um
depois do outro.
Grandes
autores da literatura brasileira se ocuparam da crônica. Muitos por ofício e
por uma questão de sobrevivência, como Rubem Braga, Fernando Sabino, Moacyr
Scliar, Carlos Heitor Cony e tantos outros. Eis que passados seis anos de sua
estreia na poesia, com Opaca
transparência (Kairós, 2012), Renato Vieira Ostrowsky aventura-se pelas
veredas narrativas com o ótimo volume O
ladrão de maçanetas (Editora Penalux, 2019).
O
livro reúne 43 narrativas breves que abordam temas dos mais variados, como o
próprio ato de escrever, a velhice, a infância, filatelia e tantos outros
clicks (Ostrowsky age em seus textos como um fotógrafo do cotidiano, fazendo
breves flashes daquilo que parece óbvio) que dialogam com frequência com o
leitor, deixando os textos ágeis e leves.
É
interessante perceber nos contos-crônicas de Ostrowsky, a relação de seus
narradores com os espaços urbanos. Em vários momentos (Autor? Narrador?
Personagem?) seus narradores observam o funcionamento caótico e sombrio da urbe
como um flâneur baudelairiano. Vale
ressaltar a relevância dos textos O
ladrão de maçanetas (com um sabor de conto fantástico à Murilo Rubião), Yu, Identidade e CPF e tantos outros, só para citar alguns. Uma das
qualidades do livro de Ostrowsky é exatamente essa despreocupação em se ater a
fórmulas fechadas deste ou daquele gênero. Não há dúvidas que conto e crônica
aqui se complementam e não precisamos ficar debatendo se é um livro de ficção
ou não. É boa literatura e estamos conversados.
Resta
saber se este carioca – curitibano prega essas peças no (a) leitor (a) embalado
pela intuição de ótimo narrador que é, ou se fez tudo de caso pensado, como se
estivesse nos observando pelo vão da fechadura.