(Artigo publicado originalmente no Jornal Relevo)
Quando iniciei esta
coluna em 2013, tinha o objetivo de resenhar escritores curitibanos que não
fossem tão reconhecidos pela grande mídia. Por isso terra incógnita. Porém,
aos poucos fui abrangendo meu corpus de pesquisa para escritores igualmente não
canônicos de outras paragens, desde São Luis do Maranhão a Portugal; do
interior de Minas a Maputo.
Meu primeiro contato
com um escritor maranhense se deu no ensino médio, quando li (escondido!) o Poema sujo do Gullar. Que revelação
naquele momento. Depois Aluísio Azevedo, o grande poeta José Chagas, Bandeira
Tribuzi, até o Sarney (coisa da qual não me orgulho!).
Mais recentemente tive
contato, através do grande amigo e doutorando em filosofia pela UFPR, Anderson
Bogéa (natural de São Luís) com alguns poetas do grupo Pitomba, revista literária de uma relevância ímpar e também selo
editorial. Numa das viagens de Anderson a São Luís, me perguntou se queria algo
de sua terra natal. Disse para trazer algo típico de lá. Me trouxe uma lata de
Guaraná Jesus e um exemplar da Revista Pitomba,
um belo exemplar com poemas, contos e colagens ao estilo de um Valêncio Xavier.
Muito originais os autores da Pitomba,
principalmente três deles: Bruno Azevêdo, Reuben da Cunha Rocha e Celso Borges.
Todos têm seus
trabalhos próprios publicados separadamente. Bruno Azevêdo tem um belo livro
intitulado O monstro Souza; Reuben da
Cunha Rocha (seu pseudônimo é Cavalodada) publicou +Realidades Q canais de TV; e Celso Borges tem trabalhos diversos
na poesia e na música.
Celso Borges nasceu em
São Luís. Autor de trabalhos de poesia, entre eles os livros CD XXI (2000), Música (2006) e Belle Epoque
(2010) com participação de mais de 50 poetas e compositores de várias cidades
brasileiras. Tem parceria com Zeca Baleiro, Fagner, Chico César, Nosly, Gerson
da Conceição entre outros. Publicou a peça de teatro Rimbaudemonio: traições, colagens e iluminações no inferno (2014).
Belle
Epoque segue as características experimentais dos
trabalhos que Celso Borges desenvolve na Revista Pitomba, ou seja, nada de versos tradicionais, retos, caretas.
Nota-se um cuidado especial com a imagem durante todo o livro. Seu formato remete
àqueles álbuns de vernissage. Em seus versos, aliados a cores ora fortes ora
obscuras, há claras alusões à desumanização, à banalização da violência, da
sexualidade e tabus cotidianos há muito arraigados na sociedade contemporânea.
Belle
Epoque ao mesmo tempo em que é bastante denso de ideias, é
pictórico, e isso já se evidencia nas primeiras páginas, no próprio prefácio
(prefácionão), de Reuben da Cunha Rocha. Alguns poemas flertam com os barrocos,
alguns com os concretistas, outros com os poetas da geração de 45. Alguns poemas
se aproximam muito do estilo de Leminski ao se auto-anularem como forma
tradicional e aproximarem-se do texto publicitário. O leitor deve permanecer
atento durante toda leitura, e mesmo assim, uma leitura nunca é suficiente.